(Org.): Direcção
Edição | Issue: Minerva Coimbra
Revista |Journal: V. 1, N. 1 – Outono 2002
ISSN: 1645-5681
Revista Media & Jornalismo nº 1
Este primeiro número de Media & Jornalismo afirma-se na diversidade dos temas dos seus artigos, metodologias e reflexões, como o fórum que se propõe ser, um espaço promotor de discussão qualificada não só na comunidade académica mas também entre todos os que se interessam pelos media e pelo jornalismo nas sociedades contemporâneas.
Revista do Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), esta publicação bianual assenta numa estrutura aberta de artigos, entrevistas, debates temáticos e recensões e num formato que a torne economicamente acessível. Pretende assim combinar uma variedade de conteúdos e constituir um elemento de reflexão e debate na vasta comunidade interessada pelos media e jornalismo, nela incluindo investigadores e estudantes do ensino superior não só de licenciaturas e pós-graduações em Comunicação mas também de campos como a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a História, a Psicologia Social, os Estudos Linguísticos e Culturais, a Economia, entre outros.
As primeiras páginas de Media & Jornalismo são ocupadas com um artigo de Eduardo Meditsch sobre o jornalismo como conhecimento. A perspectiva epistemológica que o autor explora neste artigo, no seguimento de trabalhos seus, visita linhas de pensamento sobre o jornalismo, algumas tão antigas quanto a própria história do seu estudo. Defende Meditsch, com base em contributos vários, das Teorias da Argumentação às Ciências Cognitivas, que o jornalismo é uma forma de conhecimento. O artigo apresenta algumas das suas características, problemas, potencialidades, efeitos e também responsabilidades desse enquadramento.
O ensaio de João Pissarra Esteves centra-se no conceito nuclear de poder e aprecia de forma crítica o pensamento da teoria sistémica e a perspectiva ontológica de Hannah Arendt. A relação poder-comunicação, baseada na perspectiva pragmática que propõe, realça a performatividade discursiva, a relação entre discurso e contexto da sua realização, a indissociabilidade entre conteúdo e forma discursiva. A principal referência deixa de ser o sistema político em sentido estrito para se alargar aos indivíduos enquanto membros de uma comunidade política, sujeitos de discursos e participantes de públicos. Assim se expressa neste texto a atenção que o autor tem vindo a dedicar ao estudo das identidades.
O artigo de Nelson Traquina explora a hipótese teórica dos jornalistas constituírem uma comunidade interpretativa transnacional, que partilha valores notícia e possui quadros de referência comuns. Recorre para tal a um estudo de caso, uma análise de três meses da cobertura jornalística da SIDA, tema que tem estudado, em jornais de quatro países (Portugal, Espanha, EUA e Brasil). Essa análise revela a existência de semelhanças quanto ao que ‘foi notícia’: o factor tempo, a atenção a escândalos, o domínio de ‘histórias em desenvolvimento’, a notoriedade, a proximidade geográfica, o conflito e controvérsia.
Noutra análise comparada, Cristina Ponte, que tem estudado a noticiabilidade de crianças, mostra como a mesma matéria noticiosa (um nascimento com intervenção da ciência genética) é apresentada de formas semelhantes e diferentes em cinco jornais europeus de qualidade. O tratamento desta notícia de ciência revela coincidência no destaque concedido mas contraste de opções editoriais, entre uma orientação pela emoção e ‘interesse humano’ e uma cobertura mais interpretativa por parte de profissionais conhecedores, capazes de ligar, sob a pressão do tempo, o evento à sua problemática.
A possível relação entre o crescimento da abstenção eleitoral e as formas como são cobertas as campanhas políticas constitui o ponto de partida do artigo de Estrela Serrano, no seguimento de trabalhos seus sobre as relações entre media e democracia. Centrada na campanha presidencial de 2001, a autora aprecia por que linhas se organizou a cobertura em jornais e noticiários televisivos e que temas foram privilegiados. Identifica homogeneidade entre meios, tendências para associar temas de agenda social a candidatos com menor expressão eleitoral e para enfatizar a ideia de ‘jogo’ entre contendores. Atribui ainda responsabilidades não só aos media mas também aos candidatos e seus conselheiros.
A primeira entrevista de Media & Jornalismo, a cargo de José Carlos Abrantes, apresenta-nos o investigador francês Daniel Dayan, o seu percurso académico, o seu profundo interesse pelo cinema e pelos seus olhares, o encontro com Elihu Katz e a riquíssima colaboração investigativa que daí nasceu e que está na base dos estudos sobre acontecimentos mediáticos. A agenda da conversa leva-nos também às relações entre a pesquisa comunicacional norte-americana e europeia, aos estudos da recepção, à reflexão sobre o lugar de uma televisão cultural nas sociedades contemporâneas.
Por seu lado, o tema em debate neste número incide sobre os fogos florestais, (quase) inevitáveis na agenda de Verão. As intervenções da mesa-redonda organizada por Mário Mesquita dão conta de diferentes olhares sobre este tema: centrados no seu agendamento e tratamento jornalístico genérico (Anabela de Sousa Lopes, Mário Mesquita), no ritmo da sua cobertura (Fátima Campos Ferreira), nas dissonâncias de expectativas entre jornalistas e fontes institucionais (Gisela Oliveira), na sua imersão na cultura mediática contemporânea (José Luís Garcia).
Recensões sobre obras recentes neste campo completam o primeiro número desta revista, que se deseja aberta a colaborações do meio académico e profissional, correspondendo assim ao propósito para que foi criada: constituir um espaço de debate e divulgação da pesquisa e reflexão realizada sobre os media e o jornalismo dentro e fora do país.
A Direcção
ÍNDICE | INDEX | EDITORIAL
ARTIGOS
O jornalismo é uma forma de conhecimento? | Eduardo Meditsch
O poder como linguagem: A mediação política entre funcionalidade sistémica e moral comunicacional | João Pissarra Esteves
Uma comunidade interpretativa transnacional: A tribo jornalística | Nelson Traquina
O nascimento de Adam Nash. Análise comparada de uma notícia de genética em seis jornais de informação geral | Cristina Ponte
Presidenciais 2001: Temas e vozes na cobertura jornalística da campanha eleitoral | Estrela Serrano
PERCURSOS
Daniel Dayan | Entrevista de José Carlos Abrantes
MESA REDONDA
Informação e espectáculo na luta entre a água e o fogo | Mário Mesquita
As formas de agendamento | Anabela de Sousa Lopes
Distinguir a informação-serviço da informação-produto | Fátima Campos Ferreira
Por uma cultura de segurança | Gisela Oliveira
O fogo e a cultura pan-mediática contemporânea | José Luís Garcia
RECENSÕES
Stanyer, James (2001) The Creation of Political News | Rogério Santos
Chaparro, Carlos (2001) Linguagem dos Conflitos | Estrela Serrano
Esteves, João Pissarra (org.) (2002) Comunicação e Sociedade | Maria João Silveirinha
M-J (1999) La opinión periodística | Telmo Gonçalves, Suárez, L. e Carro
ABSTRACTS | RESUMÉS